Sonhos queimam, mas as cinzas são ouro

Alegria da chegada ao Brasil, reencontro com algumas amigas naquele bom e revisitado bar, o nosso bar; tanto para colocar em dia, cervejinha e risadas, dessa vez fui de suco de laranja, e partilha e amizade. São Paulo. O telefone tocou, uma notícia tão inesperada, tristeza misturada com outra coisa inédita, ainda não consegui dar nome para essa coisa; volta à cidade que faz parte da minha história, da minha vida… Família, reencontro, lágrimas reunidas e misturadas, lágrimas choradas por todos nós. Tempo para chorar nossos amados, nossa perda. A sensação foi mesmo de aperto lá dentro do peito, enquanto chegou veloz em minha mente a seguinte mensagem: perdi. Revisitei as coisas que ele costumava usar, coisas que ainda são dele. Ferramentas na oficina, o pente no banheiro, os óculos no criado mudo, as camisas ainda no armário. É como se eu não tivesse chegado a tempo. Mas tive tempo para me despedir. Eu me despedi. E continuo me despedindo.

Nova viagem, Ilha, casa. Família materna. E ainda algum choro para ser chorado, abraços, o amor ali, acolhendo e me embalando, num dia de ano novo. Tempo de recolhimento num lugar chamado Ilha e que  (não) por acaso é onde fica o lar.

Entre Ilha e São Paulo, alguns outros reencontros com amigos, uns com muito sentido, outro nem tanto, para minha surpresa, acompanhada com pitada de tristeza e aquela dúvida: será que o outro mudou? Ou eu mudei? Mudamos? Quase dois meses no Brasil, quase sessenta dias que, olhados assim, de forma quantitativa, parecem ser muitos… No entanto, no tempo subjetivo, aquele tempo do nosso coração e da nossa mente, foi um tempo que passou voando, carregado de circunstâncias e experiências e sentimentos intensos. O luto, a preocupação com quem amamos, as demandas alheias, os reencontros, a saudade e a alegria por estar em casa, os compromissos e responsabilidades que ficaram em Portugal, férias misturadas com deveres, pretensão de pausa, mas que na verdade foi “play” o tempo todo.

Chegou o dia de voltar e voltei. Cá estou eu em Lisboa, mais uma vez. Deixei o verão e encontrei o inverno. Os dias tem sido insistentemente chuvosos. Mal cheguei e recebi visitas em casa. Visitas, porém, de casa. Uma amiga e uma prima amadas. Agora que elas foram embora, começo a retomar meu cotidiano. Os dias correm, já é março. Difícil voltar, por um lado… Por outro, bom retomar as atividades. Sem falar no feliz reencontro… Com o meu já conhecido 😉

Faz sentido estar aqui? Por que me mudei de país? O que sustenta a decisão? Quais são as perdas? E os ganhos? Transformarei este lugar em lar? O que estamos construindo? Não pertencer ao lugar novo. Deslocar. A delícia e a dor de estar vivendo na condição de estrangeira. Sigo convivendo com todas as perguntas, sem ainda ter todas as respostas.

Deixo uma música aqui, para vocês: play me

Ps.:  o título deste texto é uma tradução (mal) feita por mim de um trecho da música 24-25, do Kings of Convenience 😉

Uma resposta para “”

  1. “Conheci o bem e o mal,
    o pecado e a virtude, o certo e o errado;
    julguei e fui julgado;
    passei pelo nascimento e pela morte,
    pela alegria e pelo sofrimento, pelo céu e pelo inferno;
    e no final eu reconheci
    que estou em tudo
    e que tudo vive em mim”

    ❤️ Tem muito mais amor pra quando você voltar, mas não esquece que tá tudo aí! Te amo. 🌹

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