A janela da casa

Deitada eu estava e deitada eu continuei. Parada, com os pés para cima.

Fiquei ali, feito jacaré em beira de rio… Corpo submerso, metade da cabeça para fora, olhos imóveis, estatelados. Jacarezando eu fiquei… Olhando… Olhando…

Há 4 anos eu olho por essa janela.

Da janela eu vi as andorinhas voarem em festa, todo fim de tarde tem burburinho, happy hour no céu antes de se recolherem quando a noite chega. Da janela eu vi uma amiga e uma prima chegarem, felicidade. Vi uma família de gatos, os vizinhos irem trabalhar e depois voltarem… Vi cortarem a grama, a vizinha do andar de cima, acompanhei o dia da senhora que passa horas aqui em frente, cuidando de um cachorro e limpando o próprio carro. Da janela eu vi o Miguel subindo a rua com as compras, vi o entregador com um ramalhete de rosas brancas e um casal que de vez em quando passa por aqui e olha para mim. Na janela eu tomei o sol em doses desesperadas quando o verão chegou, ouvi a ventania ventar lá fora, aqui, onde o vento mora, vi a chuva caindo por 2 meses a fio, fraca, ininterrupta. Junto à janela eu me sentei incontáveis vezes e vi o céu em todas as horas do dia.

Agora, deitada, quando o azul vai empretejando, vejo um ponto luminoso apressado passando lá no alto… Olho, fundo, como que querendo ver o que está pra lá do céu, como que querendo surpresa, disco voador… Olho, olho esse recorte imenso de céu que a janela me dá.

E agora penso na vida que as janelas desta casa abriram para mim ao longo deste tempo.

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